CAMPUS VERDE
O Tao do Consumo orienta sobre prevenção ao plástico
Esta iniciativa atua na web e orienta sobre consumo consciente de
embalagens, além de manter uma campanha especial sobre os cuidados com o
composto químico bisfenol-A (BPA), encontrado em policarbonatos em
materiais plásticos. O trabalho é um dos destaques do espaço Campus
Verde, no evento Campus Party, em São Paulo, que prossegue até o domingo
A iniciativa de criar o site O Tao do Consumo, no ano passado, veio com a
reflexão – “Você é o que você come na embalagem que você consome”. A
ideia se expandiu em divulgações de campanhas para se evitar o consumo
do bisfenol-A (BPA), composto químico encontrado em policarbonatos
presentes em matérias plásticas, que tem apoio de algumas organizações,
como a Sbem – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e a Metabologia –
SP*. O alerta é que esse componente pode interferir em funções
endócrinas porque reage com alguns hormônios humanos. Alguns estudos
indicam que a substância é indutora de problemas no sistema reprodutivo,
afetando fetos e bebês, e também provoca câncer de mama e de próstata.
A ideia partiu da da jornalista Fernanda Medeiros e da tradutora
Fabiana Dupont, que contou que tudo começou com uma constatação: “Eu
morei, durante 12 anos, nos EUA, onde havia muitos estudos que tratam
das restrições à substância bisfenol-A (BPA), que é encontrada
principalmente nos plásticos. Quando voltei ao Brasil, percebi que não
ocorria nenhum tipo de divulgação por aqui. Fernanda, que é mãe, também
achou interessante a proposta e demos início ao projeto, para passar
essas informações para o público”. No Brasil, o limite de migração
específico de BPA permitido das embalagens para os alimentos e bebidas é
de 0,6 mg/kg de material plástico, segundo a Anvisa – Agência Nacional
de Vigilância Sanitária*.
“O BPA é encontrado em algumas mamadeiras, em embalagens, copos e
materiais médicos e dentários plásticos, em revestimento interno de
enlatados ou em garrafões de água”, explicou. Segundo Fabiana, o perigo
se deve ao fato de que há instabilidade química entre as moléculas do
BPA, que possibilita que o mesmo se desprenda do plástico e contamine os
alimentos.
Ricardo Meirelles, presidente da Sbem, explica que o BPA é um
‘desrupitor’ endócrino que acarreta modificações das ações hormonais no
organismo. “Atua como se fosse um estrogênio, apesar de não ter a
fórmula desse hormônio feminino. Pode acarretar problemas no feto, como
anormalidades de desenvolvimento sexual até problemas de fertilidade em
adultos, disfunções tiroidianas, entre outros”, acrescenta.
Ele ainda conta que há trabalhos publicados a respeito em revistas na
área de endocrinologia. “Em um desses trabalhos, registra pesquisa
feita, durante cinco anos, com trabalhadores chineses, em fábricas que
atuavam com BPA. Essas pessoas apresentaram problemas de disfunção”.
Segundo ele, alguns países já baniram a utilização do bisfenol-A, como a
Dinamarca e o Canadá. “Outros determinam quantidade limitada para seu
uso, como é o caso do Brasil. Mas alguns trabalhos têm sugerido, que
mesmo em quantidade pequenas, o BPA pode ocasionar problemas”.
Uma das recomendações, no momento do consumo, é prestar atenção ao
símbolo de reciclagem (em formato de triângulo), que geralmente fica no
fundo da embalagem, como ensina Fabiana: “Quando aparecerem as
classificações 3, 6 ou 7 (código de identificação de resina), pode ter
concentração de BPA, ou seja, não compre porque o contato com esse
plástico é perigoso para a saúde. Também é indicado que se adquira
produtos certificados pelo Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial*”.
Alguns projetos a respeito do tema tramitam na Câmara. Entre eles, o
PL nº 5831/09*, de autoria do deputado Beto Faro (PT-PA). Um dos
argumentos do parlamentar é que o Canadá, em outubro de 2008, proibiu a
utilização da substância em mamadeiras. No parlamento francês e em
alguns estados norte-americanos, também tramita medida semelhante.
“Fazemos pesquisas constantes sobre estudos que acontecem
mundialmente e colocamos esse material no site, com tradução para
português”, acrescenta a tradutora que ainda destaca que é importante
democratizar as informações. “Hoje, há mais de 80 mil substâncias
químicas em produtos comuns e só são estudadas cerca de 200, com
profundidade”. Para Ricardo Meirelles, da Sbem, deve haver uma
legislação mais restritiva, para evitar que as pessoas se contaminem.
A iniciativa O Tao do Consumo é um dos destaques do espaço Campus
Verde, dedicado à área de sustentabilidade, que integra o evento
tecnológico Campus Party Brasil*.
Rádio CBN – Programa Caminhos Alternativos
Somatização, a doença da mente que se espalha pelo corpo, e a resistência para Viver Mais com Menos
http://cbn.globoradio.globo.com/programas/caminhos-alternativos/CAMINHOS-ALTERNATIVOS.htm
Caminhos Alternativos
Os segredos dos mestres, deliciosa sopa da chef Carole Crema, os caminhos do autoconhecimento com bonecas e o Tatadrama
http://cbn.globoradio.globo.com/programas/caminhos-alternativos/CAMINHOS-ALTERNATIVOS.htm
Jornal da Câmara – Piracicaba
Homenagem – site otaodoconsumo.com.brRevista Ser Médico
CREMESP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo)
Abril/Maio/Junho
A qualidade das embalagens comercializadas no país
Você é o que come na embalagem que consome?
Por meio do sistema endócrino, os agentes químicos interferem nos
organismos e alteram a síntese e a metabolização dos hormônios. Ele é
integrador, assim como o sistema nervoso autônomo, e é regulado por uma
série de eixos de retroalimentação. Interferentes químicos ambientais
alteram a produção de hormônios agindo como desreguladores endócrinos.
Para debater este assunto, a conselheira do Cremesp e
endocrinologista Ieda Verreschi convidou o químico Peter Rembischevski –
mestre em química orgânica e especialista em toxicologia, há 10 anos na
Gerência Geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) – e Fabiana Dupont, uma das criadoras do portal O
Tao do Consumo (Você é o que come na embalagem que consome – www.otaodoconsumo.com.br), com foco em informações sobre agentes químicos desreguladores como o Bisfenol A, presente em embalagens plásticas
para alimentos.
Ieda: A partir de 1980 surgiram pesquisas científicas sobre
desreguladores endócrinos, indicando que provocavam alterações em
algumas espécies sem maior repercussão. Recentemente, o assunto passou a
ter maior destaque em conferências científicas.
Peter: O conhecimento científico nessa área cresceu muito nos últimos
dois anos. Ensaios em animais e células humanas demonstraram que o
bisfenol e outros desreguladores endócrinos têm potencial para causar
efeitos adversos. A dúvida é se as doses empregadas nos estudos estão
acima das que se correlacionam com a exposição humana. Mas, não podemos
descartar os efeitos nocivos demonstrados em animais.
Fabiana: Pesquisas apontam que a maior fonte de exposição de crianças
ao bisfenol é a mamadeira de policarbonato. Já a de adultos são as
latas de alimentos e bebidas.
Peter: Estudos não comprovaram efeitos nocivos em baixíssimas doses. A
Comunidade Europeia baniu recentemente a mamadeira de policarbonato,
que contém bisfenol, baseada no princípio de precaução. Nesse caso é bem
aplicado, pois não há certeza sobre sua segurança, há indícios de
malefícios. Gosto da frase dos toxicologistas de que “a ausência de
evidência não é o mesmo que evidência de ausência”. Comprovar que os
níveis de bisfenol presentes em mamadeiras ou em enlatados não fazem mal
ao ser humano seria evidência de ausência, mas não é esse o status
atual.
Fabiana: É preciso mais pesquisas, inclusive sobre a interação entre
vários compostos. Cerca de 80 mil químicos são utilizados no mundo em
produtos do cotidiano. Apenas 200 foram estudados em profundidade, e a
maioria como agente isolado.
Os EUA declararam guerra ao câncer com foco
nos químicos, porque os cientistas concluíram que a genética e os maus
hábitos não são suficientes para justificar o aumento de câncer. Outra
coisa pode estar acontecendo, o bisfenol age como um estrogênio e alguns
deles causam câncer e infertilidade. O hormônio pode ser utilizado pela
medicina para outros fins, mas sua inclusão em embalagens alimentares é
um despropósito. O bisfenol também está presente em recibos de máquinas
de cartão de crédito. Quem trabalha como caixa durante todo o dia
precisa ser acompanhado, pois também o recebemos por absorção dérmica.
Alguns desreguladores não afetam apenas a geração atual, mas as duas
seguintes. Nossa geração conviveu menos com plástico, mas as crianças de
hoje vivem em outro mundo. Quais serão as consequências em longo prazo?
Ieda: O princípio da precaução é importante. A evidência da atuação
de ftalatos não é tão forte no animal exposto, mas os defeitos se
manifestam nas gerações seguintes. Verifica-se em modelos animais pela
possibilidade de analisar três gerações em três anos.
“Operadoras de caixa de supermercados apresentaram maiores níveis de bisfenol” – Peter
Peter: O artigo que a Fabiana citou sobre máquinas de cartões tem
outras conclusões, como a análise de presença de bisfenol no sangue e
urina de mulheres grávidas. As que trabalham como caixa apresentaram
maior nível de bisfenol, comparada às outras ocupações. Ainda que de
forma cautelosa, sugere que a exposição ao bisfenol não acontece apenas
por ingestão como pensávamos. É preciso estudar a exposição à pele.
Fabiana: Além de embalagens alimentares, o bisfenol é utilizado em
CDs, DVDs, computadores, filtro de cigarro, papel filme etc. É um
produto muito lucrativo para a indústria petroquímica, que pressiona
para continuar a vendê-lo. Atualmente, cerca de seis empresas sintetizam
o bisfenol utilizado no mundo. Nos EUA, várias empresas já estão
procurando alternativas, utilizando resinas novas ou passando para o
vidro. Como essa questão está sendo tratada pela Anvisa?
Peter: No imaginário popular, a substância sintética é ruim e a
natural, boa. Há desreguladores endócrinos em produtos sintéticos e
naturais, como a soja. Os alimentos liberam pesticidas naturais. As
plantas que ingerimos produzem substâncias mutagênicas e até
cancerígenas para se defender de agressores. Mas têm também substâncias
benéficas que neutralizam essas ações, como por exemplo, os
antioxidantes. O organismo tem uma memória toxicológica evolutiva pelo
convívio com essas substâncias nos alimentos há milhares de anos,
criando sistemas imunológicos e enzimáticos capazes de depurá-las.
Talvez não seja possível fazer o mesmo com a sintética, que acompanha a
humanidade há apenas 50 anos.
Fabiana: Do período da gestação aos três anos é a janela mais
preocupante. A mamadeira já libera bisfenol na temperatura ambiente. Mas
com o aquecimento, libera até 50 vezes mais.
Peter: A Universidade de Lisboa fez estudos em mamadeiras – com
leite, suco de laranja e água em variadas temperaturas até os 100 graus –
que demonstraram a migração do bisfenol A para o líquido. Fez-se também
avaliação de risco, com base no valor de DDA (Dose Diária Aceitável) de
50 microgramas de bisfenol por quilo corporal. O máximo que se atingiu
foi 1,7 – muito abaixo do DDA. Até há pouco tempo, isso sustentava sua
não proibição. Porém, passou a ser proibido nos EUA e Europa porque
estudos, ainda que não conclusivos, demonstraram alguns efeitos em doses
200 vezes mais baixas do que a aceitável. A Anvisa manteve aberta até
fevereiro a Consulta Pública número 114 sobre centenas de aditivos de
contato com alimentos, inclusive o bisfenol em mamadeiras. A consulta é
motivada pela necessidade de alteração de parâmetros. A resolução da
Anvisa estava defasada em relação aos avanços científicos e aos atuais
parâmetros da Europa. Ela estabelecia em três miligramas por quilo a
quantidade máxima de plástico em alimento, enquanto a Europa já adotava
0,6. Para harmonizar a legislação europeia com a de países do Mercosul, a
norma será alterada.
“A maior fonte de exposição de crianças ao bisfenol é a mamadeira de policarbonato” – Fabiana
Fabiana: Em relação às mamadeiras produzidas, a Anvisa está checando a migração com os fabricantes?
Peter: Pode ser que não estejamos preparados ainda para essa migração
das mamadeiras. A Europa fez isso e quando colocou o tema em consulta
pública perguntou aos fabricantes o que a mudança acarretaria. A fábrica
poderia fechar ou despedir milhares de pessoas? A agência reguladora e
as autoridades devem ter essa preocupação. Quando não há certeza,
querendo fazer o bem, podemos causar mal maior. Também é possível
colocar uma substância menos testada e segura que a anterior no mercado.
Bem ou mal, o bisfenol é testado há 70 anos. A conclusão do
questionário aos fabricantes de mamadeira foi a de que a própria
indústria já tinha substitutos.
Fabiana: Há pouco o bisfenol foi proibido na Europa. Já está proibido
no Canadá e em oito condados dos Estados Unidos. A dúvida é: onde vão
parar essas mamadeiras? É importante que o público seja informado sobre o
que está acontecendo. Não é demonizar o bisfenol ou o plástico. Existem
opções e mesmo no Brasil não é preciso se expor a isso.
Ieda: No controle das águas, a Sabesp está fazendo um trabalho específico e algo deve mudar, mas a Europa faz isso há séculos.
Peter: Há algum tempo está sendo revisada a Portaria 518, do
Ministério da Saúde, de controle de água. A Anvisa entrou nessa
discussão e acabou se retirando porque não concordava com os parâmetros
adotados. Minha área gerencial desenvolve um programa de controle de
resíduos agrotóxicos em alimentos que, no máximo até 2012, passará a
fazê-lo em água também.
Ieda: A maioria dos agrotóxicos é desregulador endócrino.
Fabiana: Muitos falam que a água da torneira em São Paulo é boa para beber. Eu tomo às vezes, mas fico com medo.
Peter: É boa no sentido microbiológico e de controle do cloro, entre
outras substâncias. Mas o controle químico ainda está pendente. A
portaria 518 tenta estabelecer limites mais restritos para algumas
substâncias, mas comparado aos EUA, estamos atrasados.
Ieda: A iniciativa privada tem um papel no sentido de antecipar catástrofes?
Fabiana: Oficialmente não, mas é fundamental que as empresas deem
esse passo, sem esperar o governo proibir. A medicina e a ciência andam
rápido e os processos governamentais são burocráticos e lentos. As
empresas que tomarem a iniciativa primeiro sairão ganhando pela atitude
sustentável de um produto livre de bisfenol. Além da mamadeira, são
milhares de produtos plásticos utilizados, o copo descartável, as
garrafas pet, Tupperware etc. Seu preço é muito baixo e, depois de
usados, nada valem. A maior parte do que fica jogado na rua é de
plástico. Além do volume enorme, a decomposição leva séculos e seus
componentes podem se desprender e ir para os leitos fluviais. Latas ou
vidros ao contrário, têm valor.
“O princípio da precaução é importante; os defeitos podem se manifestar nas gerações seguintes” - Ieda
Peter: Isso acontece naturalmente nos países em que a população está mais conscientizada.
Fabiana: Pode ser interessante a volta da reutilização do vidro,
porque ainda há logística para tal. Bares trabalham com garrafas
retornáveis, mas fazíamos isso também em supermercados com os
refrigerantes e outras bebidas. Reutilizar reduz custos e permite o
retorno ao ciclo produtivo em vez de ir para o lixo.
Ieda: Grande parte dos acidentes domésticos era causada por vidro
quebrado ou estilhaçado. Houve um movimento da saúde pública para conter
seu uso. O vidro pode retornar, desde que fabricado com outras
características de segurança.
Peter: No caso de mamadeiras, por exemplo, há outros materiais
plásticos isentos de bisfenol. Pode ser mais caro, feio e menos prático,
mas a saúde das crianças merece esse cuidado. Chegará num ponto em que
todos irão ganhar. Mas nem toda substância sintética é nociva. Bem ou
mal, a humanidade progrediu e as condições de saúde melhoraram. Mas por
que não evitar aquilo que não sabemos se faz mal? Os recipientes de
plástico velhos, principalmente mamadeiras com rachaduras, liberam mais
monóxidos. Está provado que cigarro tem efeito sobre o desenvolvimento
fetal e seu filtro tem bisfenol. Pode haver sinergismo de substâncias.
Às vezes, em pequena quantidade, não faz tanto mal isoladamente, mas,
junto à outra, apresenta efeito aditivo. Está comprovado que essas
substâncias cruzam a barreira placentária e atingem o feto, ainda
despreparado para receber grande carga de substâncias químicas. Ainda em
relação a essas substâncias, intriga a questão da feminilização em
anfíbios.
Ieda: Vale lembrar que o órgão sexual de anfíbios desenvolve-se em uma ou outra direção de forma sazonal
Peter: O que foi observado em anfíbios pode não acontecer em
mamíferos, mas é indício de que essas substâncias alteram a
diferenciação genital. Uma pesquisadora da área comportamental fez um
estudo com crianças de até quatro anos demonstrando que meninos que
preferiam as brincadeiras de menina apresentavam maiores níveis de
determinados ftalatos no organismo. É um indício intrigante que exige
mais pesquisas.
Fabiana: Não é o produtor, mas a comunidade científica que tem de
provar que determinado produto faz mal, quando deveria ser o contrário,
principalmente quando está ligado à alimentação.
Ieda: Se compararmos com dez anos atrás, evoluímos, mas queremos melhorar mais.
Como saber se há bisfenol
Procure o símbolo da reciclagem na parte de trás da embalagem. O
bisfenol pode estar presente nos números 3 e 7. Às vezes, a mamadeira
não tem esse símbolo, mas em geral é mencionado de que material é feita.
Evite se for de policarbonato.
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