Quarta Cruzada e a conquista de Constantinopla
A conquista da cidade de Constantinopla pelos europeus depois da Quarta Cruzada (1202-1204) mostrou que não eram apenas aspectos religiosos que moviam os cruzados.

A Catedral de Santa Sofia foi um dos locais saqueados pelos cristãos europeus durante a Quarta Cruzada.*
A Quarta Cruzada (1202-1204)
ou “Cruzada de Veneza” resultou no saque e na tomada da cidade de
Constantinopla (atual Istambul) e na instauração do Império Latino,
levando o mundo cristão da época a ter três impérios: além do Latino, o
Sacro Império Romano-Germânico e o Império Bizantino. Apesar de ter
durado apenas meio século, o Império Latino de Constantinopla, comandado por Veneza, contribuiu para o ressurgimento do comércio entre o Ocidente e o Oriente.
O objetivo inicial da cruzada era tentar
retomar a cidade de Jerusalém. Entretanto, os comerciantes venezianos,
liderados pelo Dodge Enrique Dandalo, que estavam financiando essa
cruzada, pretendiam desviar a rota da expedição. A pressão sobre os
comandantes dos navios fez com que o objetivo da cruzada fosse a cidade
de Constantinopla. Com esse desvio, os venezianos pretendiam atacar o
principal porto comercial do Mar Mediterrâneo.
O primeiro local tomado pelos cruzados
foi o porto de Zara, no território da atual Croácia, dominado pelos
húngaros. Este local era um ponto estratégico na liberação da navegação
no mar Adriático. Depois, cerca de 150 navios e galeras se deslocaram
para a capital do Império Bizantino, tomando a cidade de assalto por
duas vezes, em julho de 1203 e abril de 1204. Após longas e sangrentas
batalhas, os cruzados tomaram a cidade e formaram um parlamento de 12
votantes, que elegeram Balduíno, conde de Flandres, como o novo monarca
de Constantinopla, sendo coroado em maio de 1204, na Catedral de Santa
Sofia, conhecida como Hagia.
Os cruzados ainda infligiram pesados
prejuízos financeiros à cidade, como o intenso saque realizado em quase
todos os templos da rica cidade bizantina. Ouro, prata, joias preciosas e
demais tesouros foram enviados a Veneza e comercializados na Europa. As
relíquias religiosas foram encaminhadas para Roma ou mesmo para outras
cidades europeias. A exibição dessas mesmas relíquias garantiam visitas e
peregrinações, fomentando o comércio das cidades que as abrigavam.
A conquista de Constantinopla e a
formação do Império Latino demonstraram que os objetivos das cruzadas
não eram apenas religiosos. Sendo o objetivo inicial a retirada dos
muçulmanos de Jerusalém, por que os europeus invadiram e saquearam um
império cristão, como o Bizantino? Talvez pelo fato de o Império Latino
de Constantinopla ter garantido aos venezianos o controle comercial no
Mar Mediterrâneo. Essa situação contribuiu também para o renascimento
comercial europeu nos séculos XII e XIII e na consequente desagregação
do mundo feudal.
A cidade foi retomada pelos bizantinos
em 1261, quando Miguel VIII Paleólogo derrubou Beduíno II, pondo fim ao
Império Latino de Constantinopla. Mas as marcas de tal invasão ficaram
impressas na relação entre as igrejas católicas do Ocidente e do
Oriente, que haviam se separado em 1054, no conhecido Cisma do Oriente.
Os ressentimentos gerados pela invasão à Constantinopla e a pilhagem de
inúmeras relíquias religiosas bizantinas só seriam amenizados quase 800
anos depois. Em 2004, o papa João Paulo II devolveu as relíquias dos
mártires da Igreja Cristã Ortodoxa, que foram roubadas na Igreja de
Santa Sofia, ao patriarca ecumênico ortodoxo.
* Crédito da Imagem: muharremz e Shutterstock.com
Por Tales Pinto
Graduado em História
Nenhum comentário:
Postar um comentário