Combate à violência
*Michel Misse
"O antiintelectualismo que aparece, com certa frequência, nas cartas de
leitores [dos grandes jornais] e em outras manifestações, contém, a meu
ver, certo ressentimento e dois erros sérios, fundados na nossa tradição
individualista-hierárquica.
O primeiro, decorrente de uma profunda ignorância a respeito de direitos civis, que se completa com uma situação inusitada, aquela em que a pessoa acha que a violência policial só chegará aos "outros" (bandidos, traficantes, assassinos), jamais a si mesma; daí a noção absolutamente equivocada de "direitos humanos dos bandidos".
O erro está em acreditar que os direitos que se erguem para defender suspeitos de crimes e criminosos da arbitrariedade praticada por agentes do Estado não são universais, isto é, não servirão para defender também o inocente da presunção de ser criminoso, inclusive a própria pessoa, que deve se achar completamente isenta desse risco.
O segundo erro é o de acreditar que a violência - ilegítima e ilegal - é necessária para conter os bandidos; nesse caso, a pessoa se esquece que o que define os bandidos é exatamente a prática de violências ilegítimas e ilegais e que de boas intenções, como essas, o inferno está cheio.
Só a lei e o seu cumprimento pelos agentes do Estado pode separar alhos de bugalhos e controlar a criminalidade em limites razoáveis. Sem isso, estaremos no pior dos mundos - como muitos acham que efetivamente estamos."
O primeiro, decorrente de uma profunda ignorância a respeito de direitos civis, que se completa com uma situação inusitada, aquela em que a pessoa acha que a violência policial só chegará aos "outros" (bandidos, traficantes, assassinos), jamais a si mesma; daí a noção absolutamente equivocada de "direitos humanos dos bandidos".
O erro está em acreditar que os direitos que se erguem para defender suspeitos de crimes e criminosos da arbitrariedade praticada por agentes do Estado não são universais, isto é, não servirão para defender também o inocente da presunção de ser criminoso, inclusive a própria pessoa, que deve se achar completamente isenta desse risco.
O segundo erro é o de acreditar que a violência - ilegítima e ilegal - é necessária para conter os bandidos; nesse caso, a pessoa se esquece que o que define os bandidos é exatamente a prática de violências ilegítimas e ilegais e que de boas intenções, como essas, o inferno está cheio.
Só a lei e o seu cumprimento pelos agentes do Estado pode separar alhos de bugalhos e controlar a criminalidade em limites razoáveis. Sem isso, estaremos no pior dos mundos - como muitos acham que efetivamente estamos."
* sociológo, professor do Departamento de Sociologia da UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ - Rio de Janeiro).
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